Durante muito tempo, o imaginário sobre startups esteve diretamente ligado às grandes capitais.
São Paulo, Rio de Janeiro e Belo Horizonte foram referências óbvias para novos negócios, por concentrarem ecossistemas de inovação, capital de investimento e talentos qualificados.
Porém, um movimento crescente vem mudando esse cenário: cada vez mais startups estão voltando seus olhos para as cidades do interior.
O que antes parecia apenas uma alternativa de menor custo hoje se revela uma estratégia inteligente para ganhar competitividade, diversificar mercados e gerar impacto social.
Vamos abordar os motivos que levam esses novos e promissores negócios ao interior do Brasil.

O custo de estar nas grandes capitais
Abrir uma startup em uma grande metrópole pode ser sinônimo de acesso a networking, investidores e centros de pesquisa.
No entanto, os custos elevados para operar nessas cidades têm se tornado uma barreira para muitos empreendedores.
O aluguel de escritórios, por exemplo, chega a valores exorbitantes.
Quer um exemplo?
Basta olhar para o preço médio do metro quadrado em SP, que figura entre os mais altos do país, para entender o peso que a localização exerce sobre o orçamento de uma empresa em fase inicial.
Dados de abril de 2025 apontam que o valor médio do metro quadrado de aluguel de um imóvel na maior capital do Brasil atingiu o valor de R$ 68,83.
Soma-se a esse alto valor a competitividade intensa por mão de obra qualificada, que eleva salários e benefícios e impacta diretamente a sustentabilidade do negócio.
É aí que o empreendedor começa a olhar para o interior brasileiro.
Oportunidades no interior: um ecossistema em expansão
Longe de serem apenas “planos B”, as cidades do interior têm se mostrado ambientes férteis para startups.
O crescimento de pólos regionais de inovação, incubadoras e parques tecnológicos tem atraído cada vez mais empreendedores.
Regiões do Norte e Nordeste, historicamente com mais cidades no interior, têm mostrado crescimento expressivo na abertura de MEIs e micro e pequenas empresas (MPEs).
Dados do Sebrae de 2025 apontam que estados como Piauí (+48,5%), Amazonas (+43,7%) e Paraíba (+40%) lideraram o crescimento dos MEIs, indicando uma interiorização do empreendedorismo.
No caso das MPEs, Ceará (+76,5%) e Amazonas (+49,7%) seguem com crescimento forte, o que evidencia a expansão para o interior dessas regiões.
E o que motiva a fuga para as cidades do interior?
O primeiro grande atrativo é a redução de custos.
O valor de aluguéis, serviços e até a folha de pagamento tende a ser muito mais acessível no interior.
Isso permite que as startups destinem mais recursos para áreas estratégicas, como desenvolvimento de produto e marketing, em vez de comprometer o orçamento com despesas fixas elevadas.
Outro ponto relevante é a qualidade de vida.
Muitos profissionais estão dispostos a trocar a correria das grandes capitais por cidades menores, onde o custo de vida é menor, a mobilidade urbana é menos caótica e há mais equilíbrio entre vida pessoal e trabalho.
Para as startups, isso representa uma oportunidade de atrair e reter talentos engajados.
A força da digitalização e do trabalho remoto
A pandemia da Covid-19 acelerou um processo que já estava em curso: a descentralização do trabalho.
Com o home office e os modelos híbridos se consolidando, a localização deixou de ser um fator limitante para a operação de empresas.
Startups do interior podem atender clientes de qualquer lugar do país (e até do mundo) com a mesma eficiência das grandes capitais.
Nesse cenário, ferramentas digitais de gestão e comunicação têm papel central.
Processos como vendas, atendimento e acompanhamento de resultados podem ser feitos online, reduzindo a necessidade de estruturas físicas robustas.
Isso amplia as possibilidades de crescimento e torna o interior ainda mais atraente para novos empreendimentos.
Desafios ainda presentes na interiorização dos negócios
Apesar das vantagens, empreender fora das grandes capitais também apresenta desafios que precisam ser considerados.
Um dos principais obstáculos é a distância dos grandes centros de investimento.
Muitos fundos de venture capital ainda concentram seus aportes em startups localizadas nas capitais.
Como consequência, os empreendedores do interior precisam buscar estratégias alternativas, como participação em programas de aceleração, uso intensivo de networking digital e aproximação com investidores-anjo regionais.
Outro ponto é a infraestrutura. Embora o acesso à internet de qualidade tenha avançado muito, ainda existem regiões onde a conectividade é limitada.
Para startups que dependem de tecnologia de ponta, esse pode ser um fator decisivo.
Estratégias de crescimento: aprendendo com o interior
As startups que escolhem o interior não estão apenas economizando recursos, mas também aprendendo a estruturar modelos de negócio mais ágeis e sustentáveis.
O primeiro ponto é a eficiência na precificação. Com margens de lucro mais ajustadas, muitas empresas precisam aperfeiçoar sua estratégia de precificação para garantir a sustentabilidade.
O uso de métodos como o markup torna-se essencial para definir preços competitivos sem comprometer a rentabilidade.
Outro aprendizado importante é a valorização do mercado local.
Startups do interior muitas vezes conseguem se inserir de forma mais profunda nas comunidades, oferecendo soluções personalizadas que atendem necessidades específicas.
Esse vínculo gera fidelização e fortalece o ecossistema regional.
Além da questão econômica, há também o impacto social positivo.
Startups que se instalam em cidades do interior contribuem para o desenvolvimento regional, gerando empregos, capacitação e novas oportunidades de negócios.
Esse movimento ajuda a reduzir a concentração de renda e inovação em poucos polos do país, tornando o crescimento econômico mais inclusivo.
Muitas cidades que antes eram vistas apenas como centros agrícolas ou industriais agora passam a ser reconhecidas também como hubs de inovação.
O futuro da inovação fora das capitais
Tudo indica que a tendência de descentralização continuará crescendo.
O fortalecimento das redes de apoio locais, o avanço da infraestrutura tecnológica e a mentalidade cada vez mais aberta ao empreendedorismo criam um ambiente favorável para que o interior do Brasil se consolide como protagonista da inovação.
O sucesso desse movimento depende, no entanto, da integração entre governos locais, universidades e iniciativa privada.
Essa colaboração é fundamental para criar políticas de incentivo, programas de capacitação e ambientes que estimulem a criatividade e a experimentação.
Do centro à periferia: a nova geografia da inovação
A escolha de muitas startups pelo interior é mais do que uma questão de custo: é uma redefinição do mapa da inovação no Brasil.
O que antes era privilégio de grandes capitais agora se espalha pelo território, mostrando que talento e criatividade não estão restritos a um CEP.
Com custos menores, acesso crescente à tecnologia e estratégias inteligentes de gestão, os empreendedores do interior têm mostrado que é possível competir em igualdade de condições com empresas da capital.
E, ao mesmo tempo, ao se afastarem dos altos preços, ganham espaço para investir no que realmente importa: inovação, impacto e crescimento.
O futuro das startups brasileiras pode estar, cada vez mais, longe dos arranha-céus e próximo das ruas tranquilas do interior.